COLUNA DO PROFESSOR WALTERLI LIMA: ALDEOTA DO MEU MUNDO

ALDEOTA DO MEU MUNDO.

 

Mais uma noite se faz na aldeota do meu mundo.

Estou farto das complexidades e dos adjetivos que julgam seres e coisas.

Cansado das filas intermináveis, onde tudo se compra e se paga.

Farto da falta de tempo, e de todo o tempo desperdiçado em busca de vidas extraordinárias que nunca chegam.

Farto de viver de aparências, de sorrir para quem não gosta de mim.

Quero a simplicidade das coisas comuns, o encanto das flores que desabrocham para o mundo, alheias à tristeza das guerras.

Quero o amanhecer do dia, que é mais vida do que todos os reis e plebeus que já existiram.

Quero brincar distraído, como uma criança que desconhece o peso das horas no relógio.

Quero descobrir-me para além das máscaras sociais, porque estou farto do que a vida fez de mim: um homem exato e produtivo.

Estou cansado dos trajes impecáveis e dos gestos ensaiados.

Há algo dentro de mim, prestes a romper as fronteiras do que criamos como possível.

E esse algo, ainda sem nome, está por todos os lados, porque é a verdade da existência, maior que os arranha-céus de concreto e as cidades que nunca dormem, com suas luzes artificiais que cegam os olhos de quem as vê.

Nas noites sem lua, observo o mundo da minha janela.

Sou apenas uma fagulha na imensidão da existência.

Vejo as estrelas, cuja luz é indiferente às vidas humanas, aos triunfos e fracassos, às histórias contadas e não contadas de tudo que por aqui existiu.

Há os que não reparam as estrelas, nem o gigante cosmos sobre suas cabeças.

Viver talvez seja isto:

Indiferença aos mistérios numa conformidade às imposições.

Pauso os pensamentos, e por instantes, degusto o prazer etílico despejado na garganta. – Eu sei, isso também é uma mentira, como tudo não natural é carente de verdades: as verdades que há no clarão do sol tocando as montanhas, nas flores desabrochando no jardim, nas estrelas que brilham com sua luz.

E se ao menos eu descobrisse a verdade do que sou, o universo inteiro caberia em meus olhos.

Mas não, para mim cabe apenas os limites da aldeota do meu mundo.

Aquele menino põe as roupas de dormir, sem saber das complexidades da vida , das luzes ofuscantes da cidade, das máscaras grudadas nas faces.

Ele vive no transe do sonho, porque a infância assim se faz. Eu, deito-me sobre a realidade sem filtros, na existência oca em que tudo, um dia, há de se tornar.

 

Walterli Lima.

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