No mundo globalizado onde o deus capital dita as regras, seleciona os homens, modificar o caráter e furta inocências, vencer na vida tornou-se sinônimo das cifras cumulativas em milhares, em milhões.
A luz que ilumina o caminho dos homens reflete no prisma dos diamantes e do vil metal.
Todo o resto é escuridão, é fracasso.
Nos andares de cima do fosso que a vida se tornou, crianças uniformizadas cada vez mais cedo são treinadas para vencer.
As cantigas de ninar, as brincadeiras infantis, o ingênuo prazer sem pecados da infância, substituídos pelas regras e mandamentos das escadas que levam ao topo.
Inocências roubadas.
Nesta ótica o mundo está povoado por gente malsucedida, fracassada. São milhões, bilhões entre nós.
Homens, mulheres a velar no escuro das noites seus pequenos, que certamente herdarão suas dores, declinam cabeças cansadas sobre o sono, sobre a incerteza do amanhã, da luz do dia que não demora a chegar.
Faltam-lhes tudo, faltam-lhes o pão, faltam-lhes justiça.
Não estou aqui a crucificar os triunfos nem tão pouco a fazer votos de pobreza obediente, mas a perder-me no que o mundo se tornou.
Levanto, saiu lá fora, absorvo o dia que ainda não chegou e tudo me consome.
Pobres homens que ainda dormem, mais tarde desterraram os pés sobre a realidade do outro lado dos sonhos.
O deus capital não dorme à espreita de vidas, a consumir o tempo que ele não pode comprar.
Multiplicam-se as dores, os ressentimentos, as chagas e os degraus a galgar cada vez mais altos e mais altos.
Até onde eles nos levarão?