Por vezes tudo soa estranho aos meus ouvidos
As palavras ditas
O barulho das ruas
A angústia calada do silêncio.
Paisagem desbotada da humanidade.
Contraditórios.
O que pensa o homem bem trajado ?
Em conquistar o mundo inteiro, talvez.
O que sonha o indigente na calçada ?
Se é que o mundo lhe permita sonhar.
A humanidade é uma orquestra dissonante de contradições.
A fome não tem cor, somente dor no prato vazio.
Os muros da injustiça se agigantam diante de nós.
A vaidade quase sempre está bem vestida a nos seduzir.
Perco-me no desafino das coisas
Entre uma coisa e outra
Entre o homem bem trajado e o indigente na calçada
Entre os aplausos e os olhares de desprezo
Entre o prato vazio e os muros alargados da cobiça
Entre a injustiça e a impunidade
Tudo é cacofonia ensurdecedora aos meus ouvidos.
Cansado de ouvir
Cansado das palavras fadadas em informar o caos
Entrego-me a paisagem inanimada de pensamentos.
